HISTÓRIA CLÍNICA: Nº 7
AGORAFOBIA E TERROR NOTURNO
HISTÓRIA CLÍNICA OCIDENTAL
FICHA E DADOS DE FILIAÇÃO
L. R. Mulher de 33 anos.
MOTIVO DA CONSULTA.
Agorafobia e terror noturno.
ANTECEDENTES FAMILIARES.
Pai colecistomizado, hérnia inguinal, tumor maligno de próstata, hemoconcentração. Avô com câncer de pulmão, avó com Alzheimer e diabetes.
Mãe com cefaleia crônica, ulcera gástrica e transtornos digestivos, histerectomizada, cistites recorrentes, hepatomegalia, prolapso de bexiga. Avó com demência senil.
Irmãos: asma, alergias, amidalites, enfermidades autoimunes, glaucoma….
Tios e primos quase todos padecem de cefaleias e câncer de colón (2)
Em síntese, os antecedentes familiares denotam uma deficiência do fator Zhong e, portanto, uma dificuldade de auto reparação, sendo este um evidente fator predisponente.
ANTECEDENTES PESSOAIS
A paciente divide seu histórico em três períodos, com uma ampla sintomatologia conforme veremos nos sinais prodrômicos e evolutivos.
ANTECEDENTES CIRÚRGICOS:
– Intervenção em quisto sebáceo nas cordas vocais aos 12 anos.
– Aborto clínico aos 25 anos.
– Traumatismo lombar com colocação de placas e colete.
ENFERMIDADE ATUAL
Agorafobia, amenorreia, insônia, edema, etc. (ver interrogação).
INFORMES TÉCNICOS (Radiológicos, analíticos, etc.).
Abundante história médica desde os 20 anos.
TRATAMENTO ATUAL:
Atualmente busca recursos terapêuticos dentro das medicinas naturais, sobretudo através da acupuntura.
OBSERVAÇÕES
Neste caso em particular, devido a ampla sintomatologia crônica de longos períodos de evolução, os antecedentes familiares e a especial idiossincrasia da paciente, faremos uma abordagem complementar, utilizando a acupuntura baseada na Lei Meio dia/Meia noite, à qual denominamos de método “EL BOLSON”.
HISTÓRIA CLÍNICA ACUPUNTURAL YI SHI WANG
SEMIOLOGIA
2 – SÍNTESE DA HISTÓRIA CLÍNICA
OS 4 ELEMENTOS DE DIAGNÓSTICO (SHI-ZHENG).
A) INSPEÇÃO E OBSERVAÇÃO
A1) Estado neuropsíquico e coordenação motora: Esgotamento e confusão mental.
A2) Estado emocional: Ansiedade Yin (preocupação excessiva, obsessão, manias, indecisão), frequente nostalgia e tristeza.
A3) Tez, olhos, língua e tecidos: Secura da pele e da boca, língua com saburra esbranquiçada
A4) Aspecto, porte e postura: Aspecto normal.
B) AUDIÇÃO E OLFATO:
B1) Tom de voz: Normais.
B2) Tônus cardiorrespiratórios: Normais.
B3) Odor corporal e hálito: Normais.
INTERROGATÓRIO: (As 20 perguntas básicas)
C1) Shen e personalidade essencial: Personalidade controvertida, com mudanças frequentes de humor, desde pequena manifesta-se irascível, embora tímida, com frequente e constante medo sobretudo noturno, que se converte em terror. Crises depressivas ansiosas, com dificuldade para dormir devido a ideias obsessivas e repetitivas que a invadem. Relata que tem dotes artísticos e que a pintura, a música e o canto a relaxam.
C2) Sinais prodrômicos e evolutivos: A paciente divide sua história em três períodos, com ampla sintomatologia, que relata segundo veremos em sinais prodrômicos e evolutivos.
1º Infância, desde que recorda até os 12 anos:
– Terror noturno e, às vezes, também diurno.
– Episódios de ira, desde os 5 ou 6 anos.
– Segundo seus psicólogos, era uma pessoa altamente sensível (PAS), que não conseguia relaxar durante as sessões clínicas, nem era possível leva-la a um estado de hipnose.
– Tímida.
– Forte curiosidade sexual.
– Anorexia noturna (não conseguia se alimentar à noite por medo de vomitar ou de se formar um “bolo” na garganta).
– Tendência a apresentar infecções de garganta.
– Caráter indeciso.
– Presença de pequenas verrugas.
2º período: dos 12 aos 20 anos:
– Obsessão alimentar e quase anorexia durante 2 anos, com apatia e debilidade.
– Friorenta.
– Hipotensa.
– Menstruação irregular, com amenorreia na Primavera.
– Acne e frequentes quistos sebáceos.
– Humor oscilante.
– Má circulação nas pernas. Inchaço e celulite.
– Agravamento da cefaleia.
3º período: dos 20 anos até hoje:
– Cefaleia frequente, que controla com analgésicos, como Ibuprofeno e Maxal max.
– Primeiro episódio de pânico (piora em público e em situações de tumulto), submetida a tratamento psiquiátrico habitual durante 8 anos. Os ataques se sucediam quase diariamente, sendo atenuados pela medicação.
– Perda da libido.
– Toma anticoncepcionais durante dois anos para regular o período menstrual. Quando deixa de tomar, reaparecem os transtornos menstruais.
– Por tomar muita medicação, decide tomar as rédeas de seu tratamento procurando opções alternativas e a primeira medida que tomou foi não comer carne. Em consequência dessa deisão suas regras se mantieveram reguladas por dois anos.
– Fez um aborto aos 25 anos.
– Em outubro de 2013 substitui os ansiolíticos e antidepressivos por fitoterapia (Valeriana e Hipérico) com rebote sintomatológico manifestado por insônia, estados de ira, depressão, medo, que foram diminuindo lentamente embora permaneçam até hoje com diversos graus de intensidade.
– Retorno da libido.
– Em maio de 2014 elimina da dieta glúten, leite de vaca e doces. Desaparece a cefaleia, a acne, emagrece 6 quilos, mas retorna a amenorreia.
– A partir de então, deixa de tomar os fármacos sintéticos e passa a se tratar com fitoterapia e dieta.
– Em setembro inicia tratamento com acupuntura apresentando evolução lenta, mas favorável.
– Em janeiro de 2015 sofre um acidente de automóvel com esmagamento de 50% das vértebras L2 e L3. Passa a utilizar colete e placa ortopédica por 5 meses.
– Este episódio fez com que todo processo positivo de sua evolução anterior regredisse e, agravado pela ruptura da relação amorosa de 15 anos, retorna a cefaleia, a diminuição da libido, a acne, as crises obsessivas com pensamentos repetitivos, preocupação excessiva, confusão e esgotamento mental.
– Começa a ter vertigens, acúfenos e gotejamento pós-miccional.
C3) Tipo de alimentação: Atualmente apresenta uma dieta livre de glúten, proteína animal, doces e produtos lácteos.
C4) Períodos de crise: Os sintomas psíquicos, sobretudo a insônia, são muito sensíveis aos fatores climáticos e pioram na lua cheia.
C5) Cefaleia: As enxaquecassão suas companheiras e atualmente é um dos sinais clínicos que mais a preocupa.
C6) Agente climatológico incidente: Refere ser muito sensível tanto ao frio quanto ao calor, piorando o quadro, sendo este um dos fatores coadjuvantes mais significativos em suas crises agorafóbicas.
C7) Frio-Calor: Friorenta, com pés quase sempre frios.
C8) Sudoração: Suores noturnos ocasionais.
C9) Sede e Fome: Normais fora dos períodos de crise, quando apresenta ataques de pânico refere que “o estômago se fecha” e não consegue engolir. Gosta de frutas secas, o doce a sacia rapidamente e repele o salgado.
C10) Secura e febre: Secura da pele e da boca.
C11) Algias, parestesias, dor e contraturas: Desde o acidente padece de dores na coluna e gonalgia (dores no joelho). A enxaqueca quase sempre é vespertina ou noturna e é desencadeada quando fica muito tempo sem comer, cursa com sensação de calor intenso. Melhora com aplicação de gelo no local.
C12) Pele e unhas: Pele seca.
C13) Humores: Nada significativo.
C14) Urina: Desde o acidente, apresenta necessidade urgente e frequente de urinar e gotejamento pós-miccional.
C15) Fezes: Alterna quadros de constipação com diarreia, de acordo com o tipo de dieta. Odor fétido.
C16) Edemas e depósitos: Edema frequente com retenção de líquidos em MMII e falta de força nas pernas, má circulação de retorno, celulite e tendência a ter hematomas.
C17) Gastrointestinal: Distensão e dor abdominal, aerofagia, alternando constipação e diarreia. Candidíase intestinal.
C18) Genitourinário: Nada relevante, exceto os transtornos miccionais depois do acidente.
C19) Fluxo e menstruação: Transtornoscrônicos na menstruação com amenorreias de vários meses. Ausência de dismenorreia.
C20) Sono: Dificuldade para dormir, com despertar frequente com nictúria e despertar matutino precoce.
C21) Coração: Hipotensa, frequência ao redor de 60 bpm.
C22) Ouvido, boca, olhos e lábios: O comentado sobre a recente aparição de vertigem e acúfenos.
C23) Endócrino e metabolismo: Nada significativo.
C24) Respiratório: Mantem uma boa função cardiopulmonar apesar de fumar desde os 14 anos. Em determinada época fumou maconha, porém deixou de fazê-lo porque esta lhe provocava hipotensão.
C25) Astenia: Às vezes apatia, sensação de frio, hipotensão.
C26) Fleumas: Frequentes quistos sebáceos, celulite.
C27) Sinais de ptose: Nada significativo.
C28) Sinais de ascensão: Enxaqueca, acúfenos, vertigem, insônia, calor no vértex, etc.
C29) Hemorragias: Nada significativo.
C30) Sensação de corpo pesado ou vazio: Nada significativo.
D) PALPACAO
D1) Pulso: Profundo, débil e rápido.
D2) Anatômica: Nada significativo.
D3) Eletrônica: Energobiograma normal.
3 – DIAGNÓSTICO GERAL, DESENVOLVIMENTO
FISIOPATOLÓGICO E CONCLUSÃO DIAGNÓSTICA
DIAGNÓSTICO GERAL:
OS TRÊS DIAGNÓSTICOS (SAN GANG).
1º DIAGNÓSTICO. A SITUAÇÃO. (JING MAI GANG) (BIOMEDIÇÕES)
Apresenta um gráfico Ryodoraku normal.
2º DIAGNÓSTICO. DE 1ª INTENÇÃO. (BA GANG).
YIN-YANG: Yin.
INTERIOR-EXTERIOR: Interior.
FRIO-CALOR: Calor.
VAZIO-PLENITUDE: Vazio.
3º DIAGNÓSTICO. DE 2ª INTENCAO. (BIAN ZHEN GANG) (SINDROMICO).
DESENVOLVIMENTO FISIOPATOLÓGICO.
Os episódios recorrentes de terror noturno e inclusive diurno na infância provocaram uma deficiência do R-Yin e um gasto energético importante do R-Yangque nesta idade precoce leva à debilidade do Zhengao longo do resto da vida, tornando precário os sistemas de homeostasia e tornando o indivíduo vulnerável aos fatores meio ambientais e sobretudo os emocionais (os das grandes frentes de batalha do ser humano). A causa desse medo deveria ser buscada em possíveis traumas ocorridos na primeira infância, durante a gestação, ou até mesmo em lembranças genéticas de outras vidas.
Essa deficiência de R-Yin é evidente em quase toda sintomatologia, com sinais de secura da pele, amenorreia, gonalgia, vertigens, possível hemoconcentração, enxaqueca avascular, acúmulo de fleuma, etc. Essa deficiência primária provoca um déficit de Yin do Fígado, com o consequente escape de Yang do Fígado (falso Yang), responsável pelos episódios de irritabilidade, acúfenos, enxaquecas, insônia distal, calor no vértex cefálico, confusão mental, excitação ocasional da libido, etc.). Por outro lado, a persistência de episódios de pânico na adolescência e juventude (agorafobia), com a consequente carga medicamentosa de síntese (psicotrópicos) e uso de anticoncepcionais, levou à um aumento de fleumas, que deram lugar à aparição de estancamentos de líquidos orgânicos, originando dos edemas, celulites, formações císticas, etc., quadro que melhorou posteriormente com as correções dietéticas.
A paciente refere que na infância não queria se alimentar à noite devido à sensação de “bolo” na garganta e medo de vomitar. Estes sintomas são muito relevantes para explicar as alterações gastrointestinais. Sabemos que o vômito é devido, em muitas ocasiões, a um mecanismo fisiológico que trata de expulsar os miasmas psíquicos (labilidade gástrica frente a um impacto emocional). A MTC relaciona esta circunstância com o denominado Gran Luo de Estômago, ou “via tenebrosa” que conecta o Pericárdio ou MC. (centro emocional) com o Estômago, de tal maneira que, se essa via está permeável ou aberta, o Estômago se converte em um órgão emocional com estados nauseosos e vômitos ante qualquer alteração psíquica e emocional; no Ocidente se diz popularmente que “os nervos se fixaram no estômago”. O calor do Pericárdio, resultante do confronto biológico frente a um fator patógeno, desce ao Yang Ming levando à formação de gases, possível pirose, dilatação abdominal, odor fétido das fezes e flatos, borborigmos, acne, candidíase intestinal com risco de futura halitose, gengivite, sinusite, etc.
O recente traumatismo por acidente de automóvel afetou as vértebras lombares 2, 3 e 4, precisamente na área do Mingmen (DM 4). Esta ocorrência coincidiu com o rompimento da relação de 15 anos com seu namorado. Estas circunstâncias adversas acabaram afetando o R-Yang, com a consequente resposta de insuficiência geral dos aspectos funcionais do sistema geniturinário, com a aparição de incontinência leve, mas precoce, estancamento do T`Chong Mai interferindo nos processos menstruais, envelhecimento do ovário por deficiência de Yin, edema abdominal, nictúria, má circulação de humores nesta área, astenia e diminuição da resposta homeostática frente a agentes climatológicos e meio ambientais.
Tem a seu favor o fato de conservar uma boa função do TA superior (cardiorrespiratória), apesar de ser tabagista (que deverá superar). Por não apresentar sinais nestes sistemas, pode compensar o fracasso multiorgânico. É muito importante que o Pulmão possa carregar a bateria (Rim Yang), pois este está submetido a um forte desgaste devido ao medo. Sabemos que o medo é o fator patógeno mais incidente nos processos de desgaste energético e lesiona a raiz Yin do Rim Yin (produção da agua mãe), sem a qual, indefectivelmente, vai haver secura, densificação de humores e hemoconcentração. Os exercícios respiratórios como Tai Chi, Qi Gong, Yoga etc. são vitais para estes pacientes.
CONCLUSÃO DIAGNÓSTICA.
TERMOS CHAVE:
– Debilidade congênita do Rim Yang.
– Esgotamento precoce da raiz Yin do Rim Yin por medo.
– Deficiência Geral de Yin e Xue.
– Escape de Yang hepático por falta de Yin renal.
– Labilidade gastrointestinal ao fator emocional por alteração do E18 (Rugen) e Gran Luo de E.
– Calor no Yang Ming.
– Esgotamento do R-Yang.